O texto digital tem características bem definidas. Precisa ser objetivo, conciso e expressar claramente a informação que o usuário precisa ter em cada momento de sua experiência digital. Adjetivos em excesso e complexidades desnecessárias devem ser evitados ao máximo e a busca pela simplicidade é quase um mantra a ser seguido na criação de microtextos. Um texto simples é entendido de imediato, tornando a leitura fácil e acessível.
Quando pensamos em redação para a experiência digital, a simplicidade na escrita é uma habilidade valiosa. Mas como ter uma interface com textos simples sem ser simplório ou cair em clichês que apenas explicam o óbvio? Como estamos trabalhando com palavras, o primeiro passo é conhecer o universo semântico no qual estamos inseridos, tando sob o ponto de vista das personas quanto da marca:
- Personas: é fundamental saber com quem estamos falando, quais as palavras as personas costumam utilizar no seu dia a dia e qual a carga cognitiva que possuem para entender cada microinteração. Se estou criando um aplicativo para uma comunidade de químicos, posso utilizar o termo “Cloreto de Sódio”. Mas se é um aplicativo de supermercado, o mais indicado é escrever “Sal”.
- Marca: devemos entender o universo no qual a marca atua. Quais palavras são mais indicadas e conhecidas pelo público que busca meu serviço ou produto? Quais palavras a marca utiliza com mais frequência e quais ela não costuma utilizar? Neste momento é importante saber se a marca tem um manual de Tom e Voz ou uma taxonomia que determina os termos preferidos e os indesejados.
Para ter uma redação que seja simples em seu entendimento, nosso exercício é conciliar as palavras que serão facilmente compreendidas pelas personas com as palavras utilizadas pela marca. Também é importante evitar o uso de termos excessivamente técnicos ou siglas desconhecidas do grande público, bem como jargões, regionalismos ou gírias.
A simplicidade nas microinterações
As microinterações estão em todos os elementos de uma interface. Sua função é comunicar as ações permitidas pelo sistema e dar as respostas a estas ações para as pessoas usuárias. Seja um botão, um campo de formulário, uma mensagem de erro ou uma simples animação colorida ao clicar num ícone, é na microinteração que a clareza e a simplicidade da mensagem são colocadas à prova.
As microinterações podem ter ou não microtextos que auxiliam em seu entendimento. Num projeto recente, testei a interface mobile de um site onde o menu aparecia após o toque no ícone hambúrguer. Nos testes percebemos que muitos usuários não reconheciam o ícone como o elemento que abria o menu. Modificamos o protótipo e acrescentamos a palavra “Menu” abaixo do ícone e o problema foi resolvido, pois todos os usuários entenderam sem nenhum esforço a funcionalidade.
Quando pensamos na microinteração é preciso definir o gatilho que dará início a ação, as regras que determinam seu funcionamento e os feedbacks que a pessoa usuária deve receber a cada estágio da microinteração. É neste momento que decidimos se ela deve ter microtexto ou se apenas um ícone ou uma animação é suficiente para a clareza da mensagem. Por exemplo: um botão cinza, que está meio apagado, indica que o mesmo não pode ser clicado sem a necessidade de um microtexto. Já um botão sem nenhum microtexto indicando a ação será apenas um retângulo vazio.
Em resumo, a simplicidade em uma experiência digital vai além do texto. Ela abrange o design e a tecnologia utilizada no site ou aplicativo. Como UX Writer, você deve sempre investigar os recursos tecnológicos que a plataforma oferecem e podem ser usados nas microinterações. Além, é claro, que trabalhar junto com o design na criação das melhores soluções para cada microinteração.
Portanto, ser simples no ambiente digital é mais complexo do que se pode imaginar. É um trabalho em equipe onde o texto tem fator primordial na comunicação entre a interface e a pessoa que está interagindo com o sistema. Usar as palavras certas e comunicar com clareza o que pode ser feito e os resultados de cada ação é o que separa uma interação traumática de uma experiência satisfatória.