Comecei a trabalhar com texto digital no início dos anos 2000, quando larguei a redação publicitária e comecei a me aventurar no mundo do que até então era chamado de webwriting. Desde o início ficou claro que o texto digital tinha uma característica mais informal do que o texto impresso. Adotar um tom mais conversacional e informal ajudava a quebrar resistências e amenizava a frieza de um até então desconhecido ambiente digital. Quando as redes sociais e os aplicativos de mensagem caíram no gosto do público, a informalidade virou uma característica importante nos textos digitais: UX Writing, webwriting, copywriting e mesmo nos antes mais frios textos de Tech Writing.
Hoje chamamos a informalidade dos textos digitais de Escrita Conversacional, definida de forma brilhante por Carmel Wiseman e Ilan Gonen:
“A internet quebrou a velha barreira entre a linguagem escrita e falada, fazendo nascer uma terceira opção: a escrita conversacional.”
Na linguagem escrita, também chamada de norma culta da língua, a preocupação máxima está com a correção gramatical. Ao elaborar um texto, pensamos no uso correto de verbos, pronomes, conjugações, etc. Quando conversamos com alguém, a preocupação com a gramática nem passa pela nossa mente, pois o importante é a comunicação livre e informal na qual estamos engajados naquele momento. Ao aplicar os princípios da escrita conversacional no microtexto, seguimos a correção gramatical da linguagem escrita e adotamos o tom coloquial da linguagem falada.
O principal motivo para utilizar a escrita conversacional no UX Writing é fazer com que a comunicação entre a interface e a pessoa que está interagindo com o site ou aplicativo seja mais humana, ou seja, percebida como um diálogo entre duas pessoas. Lembre-se: a comunicação digital é sempre 1 a 1. O ambiente digital está interagindo com uma única pessoa do outro lado e o diálogo deve ser diretamente com ela. Para isso, a escrita conversacional tem algumas características importantes:
- Fala diretamente com os usuários.
- Parece natural e clara.
- Seu estilo é fluente, como um diálogo.
- Usa palavras comuns do dia a dia.
- Está na voz ativa ao invés da voz passiva.
- Usa preposições, artigos e palavras de conexão para soar mais natural.
Como aplicar estas características ao microtexto? Seguem alguns exemplos:
A simples adição do pronome “seu” antes de “pedido” torna a mensagem mais próxima da pessoa usuária.
Além de ser mais objetiva, estamos mais acostumados a ouvir este tipo de um atendente de loja.
No dia a dia não pedimos para alguém “fechar janela” ou “abrir porta”. Colocamos naturalmente o artigo para tornar a fala mais humana. Com o microtexto, devemos fazer o mesmo.
Como você pode notar, não existe segredo para utilizar a escrita conversacional no UX Writing. Basta trazer para o microtexto as formas de diálogo que utilizamos em nossas conversas, desde que aprendemos a falar. Afinal de contas, não importa se estamos nos comunicando presencialmente ou através de uma tela. No fundo, toda e qualquer interação deve ser percebida em termos humanos e isso só é possível pelo diálogo.